Ele passou meses esperando no portão da antiga casa, até viajar para reencontrar a tutora.
Mailon, um cachorro sem raça definida, passou por muitas aventuras até reencontrar a antiga tutora. Ele vivia em Praia Grande (litoral sul de São Paulo) com Maria da Paz Oliveira da Silva, até que os humanos da família voltaram para Ibiapina, uma pequena cidade no interior do Ceará.
Com a pandemia de Covid-19, a família perdeu os rendimentos e teve de desocupar repentinamente a casa que alugava no bairro Jardim Esmeralda. Mailon foi deixado sob os cuidados de parentes, mas não parece ter gostado nem um pouco da solução encontrada.
Maria da Paz viajou às pressas para o Ceará com o marido e os dois filhos, mas teve de deixar Mailon para trás. O projeto da família era manter o cachorro com familiares em Praia Grande, até que tivesse condições de levá-lo para Ibiapina.
O cachorro não gostou da casa nova. Ele vivia fugindo, para ficar no portão da casa antiga, esperando Maria da Paz e a família. Os parentes o pegavam e levavam de volta, mas Mailon começou a se mostrar agressivo: ele parecia disposto a “guardar a casa” até que os tutores voltassem.
Com medo, os tutores provisórios desistiram de recolher Mailon. Assim, o cachorro permaneceu por mais de um mês morando na rua, sempre vigiando o portão da casa antiga. Ele era alimentado pela nova inquilina e por vizinhos, que ficaram admirados com a “fidelidade canina”.
Em pouco tempo, a história de Mailon chegou as redes sociais. Os posts viralizaram e chamaram a atenção principalmente de duas amigas. Helen Baum e Miriam Reis são protetoras independentes de animais e atuam no litoral sul paulista.
As duas protetoras ficaram sabendo que, além das pessoas que alimentavam Mailon, outras começaram a agredi-lo, inclusive atirando pedras e pedaços de pau. Elas conseguiram encontrar Maria da Paz no Ceará, mas a situação financeira impedia o transporte do cachorro.
Helen e Miriam conseguiram levar Mailon para um abrigo provisório – pelo menos, ele estaria a salvo das agressões e teria um cantinho mais confortável enquanto as amigas tentavam encontrar uma maneira de reunir o cachorro e a antiga tutora.
No abrigo, porém, Mailon começou a apresentar sinais de depressão. Ele precisava ficar isolado, em um espaço muito pequeno. Miriam, então, decidiu levá-lo para casa, mas Mailon não se acostumou com os cachorros que já viviam com a protetora.
As duas amigas resolveram tentar arrecadar fundos para levar Mailon para o Ceará – uma viagem para um cachorro, de São Paulo a Fortaleza, custa R$ 2.600. Enquanto as protetoras organizaram uma vaquinha virtual, Maria da Paz, no Ceará, começou a vender algumas riifas.
Ainda assim, o esforço foi insuficiente: o total arrecadado em dois meses de campanha foi de R$ 1.600. Então, elas foram informadas de um serviço chamado Taxi Dog, especializado em transporte interestadual de animais.
O custo da viagem ficou em R$ 2.000. Miriam financiou os R$ 400 restantes em um parcelamento no cartão de crédito. Finalmente, no dia 17.07.21, Miriam e Helen se despediram de Mailon, que embarcou para o Ceará, para o tão sonhado reencontro com Maria da Paz.
A despedida teve muito choro, já que as protetoras haviam se apegado a Mailon e passaram três meses envolvidas com as idas e vindas do peludo. Por outro lado, havia a agradável sensação de dever cumprido – e muito bem cumprido.
Depois de uma viagem de cinco dias, Mailon desembarcou, no dia 22.07, em Fortaleza. Maria da Paz conta que estava muito ansiosa, com o coração disparado. O reencontro foi emocionante. Cachorro e tutora tiveram de enfrentar ainda uma viagem de cinco horas até Ibiapina.
Mailon foi recebido com festa na cidadezinha. Ele agora está morando em uma casa de três cômodos, ainda sem acabamento, cedida pela madrinha de Maria da Paz. Mas as coisas estão se ajeitando: Maria está empregada como doméstica, enquanto o marido trabalha na lavoura. Todos estão felizes e reunidos: final feliz!